Fome é violência: Auxílio de R$ 600 é temporário, não paga comida nem reduz fila

Com o anúncio de que o valor do Auxílio Brasil terá um salto de R$ 400 para R$ 600, muitas famílias brasileiras viram uma perspectiva de ter uma renda melhor para custear gastos básicos, como alimentação e contas da casa. Uma estimativa da Abras, associação que representa os supermercados no Brasil, aponta que as famílias brasileiras deverão gastar de 50% a 60% dos recursos extras disponibilizados por meio dos auxílios aprovados na PEC dos Benefícios com compras em supermercados.

Em paralelo, o aumento pode virar frustração. Uma portaria publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (20) regulamenta o aumento temporário do Auxílio Brasil, começando em agosto e finalizando em dezembro deste ano. Os valores serão distribuídos de acordo com o calendário do programa, utilizando os mesmos meios de depósito.

“O Auxílio Brasil de R$ 600 é transitório. O cálculo, a informação que ele usa para decidir o valor, é simples, mas não atende as necessidades diferentes de cada família”, questiona Marcelo Neri, economista e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).

“Valor do Auxílio Brasil não atende as necessidades diferentes de cada família” – Marcelo Neri

Valor cobria uma cesta básica em 2020; hoje, não cobre

Um dos parâmetros para custear o valor de auxílios é o poder de compra para uma cesta básica, por exemplo. Ao comparar, a conta não fecha e a população segue com fome: mesmo com possível aumento de R$ 200, o Auxílio ainda não será capaz de comprar uma cesta básica. O valor fica abaixo dos mais de R$ 770 cobrados no conjunto de alimentos em algumas capitais.

É o caso de São Paulo, onde a cesta básica custa R$ 777,93. Em Florianópolis e Porto Alegre, fica apenas alguns reais mais barata, batendo os R$ 772,07 e R$ R$ 768,76, respectivamente. A compra com o dinheiro recebido pelo Auxílio Brasil só é possível em cinco regiões: Aracaju, João Pessoa, Natal, Recife e Salvador e ainda assim todas as cestas estão acima de R$ 540.

Para calcular o custo da comida na mesa dos brasileiros, o DIEESE considera os seguintes alimentos:

  • Carne
  • Leite
  • Feijão
  • Arroz
  • Farinha
  • Batata
  • Legumes (Tomate)
  • Pão francês
  • Café em pó
  • Frutas (Banana)
  • Açúcar
  • Banha/Óleo
  • Manteiga

Da lista, o óleo, o feijão e a batata são os alimentos que, do início do governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019, até maio de 2022, ficaram mais salgados para o bolso. Ao longo dos últimos anos, os três passaram a custar mais que o dobro do preço antigo, sendo que o líder do ranking ultrapassou os 183% de aumento. Veja abaixo o gráfico:

Os campeões do aumento

Variação no preço dos produtos desde o início do Governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, até maio de 2022, de acordo com o índice IPCA do IBGE

Fonte IBOPE

Em 2020, representantes da Rede Brasileira de Renda Básica brigaram pelo Auxilio Emergencial de R$ 600 com base no valor da cesta básica, que em Sao Paulo, por exemplo, custava R$ 577. “Com a inflação e poder de compra cada vez menor, a mesma cesta em SP custa mais de R$ 700. Mesmo que valores sejam ampliados, o problema de garantia mínima continua”, defende Paola Carvalho.

Vale destacar que o Auxílio Emergencial, corrigido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), também é maior que o Auxílio Brasil. Hoje, o tíquete seria de R$ 719,40 – o que ainda impossibilita a compra das cestas básicas em algumas capitais.

Em números

Mais de 2,7 milhões de famílias que atendiam aos requisitos para receber o Auxílio Brasil não tiveram acesso ao benefício em abril deste ano, conforme mostra o Estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Criado em agosto do ano passado para substituir o Bolsa Família, o programa de transferência de renda é considerado trunfo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição para o Executivo federal este ano.

O mais recente mapeamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) aponta que todos os municípios do Brasil somam uma demanda reprimida de 2,78 milhões famílias à espera do acesso ao Auxílio Brasil. Em abril, 5,3 milhões de brasileiros com perfil para receber o benefício estavam na fila.

“As filas maiores são resultado de duas situações: a primeira é o empobrecimento da população, a pobreza hoje é a mais alta dos últimos 10 anos; temos 62,9 milhões de pobres, com aumento de cerca de 10 milhões na pandemia. Usando o parâmetro do Auxilio Brasil, de R$ 210/família, também temos o nível mais alto. Do outro lado, tem a necessidade em vista do outro valor: é o um valor generoso em vista dos demais programas de auxilio anteriores. Assim, as pessoas se dispõem a enfrentar as filas”, explica Marcelo Neri.

Só em 2021, segundo ano de pandemia, mais 7,2 milhões de brasileiros passaram a viver na pobreza, segundo levantamento da FGV Social. A proporção de pobres subiu de 7,6% da população em 2020 para 10,8% em 2021, um aumento de 42,11%.

Fonte: https://br.financas.yahoo.com/noticias/fome-e-violencia-auxilio-de-r-600-e-temporario-nao-paga-comida-nem-reduz-fila-175340827.html

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